Ainda sobre a Fibromialgia...
Um dos melhores textos que li sobre essa síndrome, ainda na dúvida se sou portadora dela ou da AR artrite reumatoide, mas há muito de mim nestas descrições. como Marwin...sentindo o peso do mundo sobre mim, estou melhorando e muito, mas as minhas noites ainda estão longe de serem reparadoras. Aproxima-se de uma hora da manhã, a cabeça não para e resiste descansar. Sinto inveja de quem dorme! Quero dormir, quero dormirrrrrrr!!
Fibromialgia: o que você
precisa saber.
O que é fibromialgia?
Fibromialgia não chega a ser
uma doença. Se você fizer uma biopsia das partes que doem, enviar para análise,
fazer cultura, olhar no microscópio (…), nada vai surgir. O tecido não está
doente. Não há nenhum vírus ou bactéria. E, a boa notícia, ninguém morre disso.
No entanto, quem sofre de fibromialgia não tem a menor dúvida de que
alguma coisa está errada.
Que nome dar?
Diz-se “síndrome”,
“distúrbio”, “patologia”. Seja lá qual for o nome, existe, e causa imensa
morbidade para os acometidos.
Quem tem fibromialgia?
Fibromialgia pode acometer
homens e até crianças, mas isso é bastante raro. Mais de 95% das pessoas que
sofrem deste mal são mulheres, geralmente com idade superior a 20 anos.
Quais os sintomas de
fibromialgia?
Dor no corpo todo. Dor “na
carne”, não nas juntas. Dói o dia inteiro, mas a dor é particularmente maior ao
acordar (parece que se “levou uma surra” na noite anterior”), sente-se uma
discreta melhora ao longo do dia, mas no final da tarde a dor volta com toda
sua intensidade. Dorme-se mal nesta síndrome. A cabeça “não para”. Todos os
problemas da humanidade passam na cabeça da fibromiálgica, mas em especial os
dos parentes próximos. O sono é descrito como “não reparador”, ou seja, a
pessoa não descansa. Tem-se a sensação de cansaço e sonolência por todo o dia.
Em muitas pessoas as mãos estão inchadas, principalmente pela manhã, algumas
vezes formigam, ou ficam dormentes. Para outras, por momentos, a respiração
pode ficar difícil, como se houvesse um grande peso sobre o peito. Essa
sensação passa sozinha após minutos ou horas mas tende a voltar ao longo do
dia. Dores de cabeça são comuns. Causa ou conseqüência, a depressão é muito
freqüentemente associada à fibromialgia.
Como ter certeza de que eu
tenho fibromialgia?
Não há exame diagnóstico
específico. É muito comum a pessoa passar de médico em médico, realizar milhões
de exames, de sangue à ressonância magnética, sem encontrar nada de errado. O
diagnóstico de fibromialgia é baseado em exames laboratoriais normais, que
excluem outras doenças que possam imitar a fibromialgia, e no quadro clínico
típico. Os famosos “pontos em gatilho” da fibromialgia (pontos bastante
dolorosos à palpação) são indicativos mas com maior valor para trabalhos
clínicos do que para o diagnóstico em indivíduos.
O que causa fibromialgia?
Para ir direto ao ponto, o
que causa a fibromialgia é o sono ruim. Quem não descansa por um período
contínuo e duradouro fica com dores no corpo todo. É o que acontece na
fibromialgia e em outras patologias do sono. Em outra doença, a apnéia do sono,
por exemplo, o indivíduo não dorme por uma razão bem diferente: se ele
aprofunda no sono engasga e sufoca. Mas o resultado é o mesmo: dores no corpo,
dores de cabeça, cansaço e sonolência. Uma mãe que não consegue dormir porque o
bebê acorda a noite toda também sente dores semelhantes. Mas, na fibromialgia,
o que causa o sono ruim? Como já mencionado, a fibromiálgica não dorme porque
“a cabeça não desliga”. Porque então “a cabeça não desliga”? Aí entra o próximo
tópico.
A personalidade
fibromiálgica
Fibromiálgicas carregam o
mundo nas costas. Preocupam-se com tudo e com todos. Porque o filho vai mal na
escola, porque a filha perdeu o emprego, porque o genro não dá bola para os
problemas, porque o marido não se envolve… Trabalha e preocupa-se com e para
todos. E freqüentemente aflige-a o fato de que ninguém se preocupa com estes
problemas como ela. Bem, se uma pessoa toma conta do mundo sozinha, como é que
ela vai conseguir dormir? Quem vai tomar conta do mundo enquanto ela estiver
“desligada”? Os problemas são enormes, e após um vem logo outro. E a
fibromiálgica passa a vida esperando as coisas melhorarem para ela começar a se
cuidar, para começar a ser feliz. Mas as coisas nunca
melhoram o bastante.
Fibromialgia tem cura?
Tem. Mas depende muito mais
da paciente do que do médico. Ao médico cabe apenas orientar e passar algumas
medicações. As medicações na fibromialgia não são mágicas. Elas se baseiam em
relaxantes musculares, que melhoram o sono e “desligam” um pouco a pessoa, e
antidepressivos. Alguns antidepressivos também dão sono, outros apenas combatem
a depressão associada, e diminuem a ansiedade. Muitas fibromiálgicas ficam
dependentes de remédios para dormir e ansiolíticos, que resolvem muito
parcialmente os problemas. Os relaxantes musculares e antidepressivos não
causam dependência, mas, infelizmente, perdem a eficácia após mais ou menos de 8 a 12 meses. Então os
problemas voltam, e os remédios não mais funcionam.
É verdade que esportes têm
papel importante na fibromialgia?
Sim. Esporte age de
diversas maneiras. Em primeiro lugar melhora a forma física, a auto-estima e o
organismo como um todo. Em segundo, libera uma série de hormônios e mediadores
que aliviam a dor e o cansaço. Em terceiro, pode melhorar a qualidade do sono.
Por fim, o esporte é um momento onde a fibromiálgica deixa o mundo de lado para
cuidar de si mesmo. Isso apenas já é grande avanço! Qual esporte fazer? Tenha
em mente duas coisas: primeiro, a atividade deve ser para a vida toda! Portanto
não faça algo que não goste, ou que não vai agüentar muito tempo. Se academia
te entedia, mas dança te dá prazer, dance! Se cansar de um mude para outro. O
importante é não ficar parada. Combine esforço aeróbico com alongamento.
Musculação não é o mais indicado. Segundo, um corpo
dolorido e contraído dói
mais ao exercício. É comum e esperado que as dores piorem no início das
atividades físicas. Este é o momento de usar as medicações que seu
reumatologista indicar, elas darão algum alívio. Insista. Continue. Faça por
gosto e por você.
Como curar fibromialgia?
Geralmente uma crise forte
de dor anuncia que a pessoa está realmente num limite e que uma mudança no
estilo de vida é urgente. Algo está “demais”, pesado demais mesmo para esta
pessoa campeã em agüentar as coisas. Esta crise pode ser uma oportunidade de
alavancar uma transformação, e a cura. Entenda esta crise de dor aguda como um
grito do
corpo pedindo que a pessoa
atenda as exigências maiores de sua essência. Para curar a fibromialgia tem-se
que tomar consciência dos mecanismos que causam a doença, e mudá-los. Os
remédios são fundamentais, viabilizam uma condição onde a transformação tem
chances de acontecer, aliviam por alguns meses. Este tempo é valioso para a
pessoa mudar completamente o jeito como leva a vida. “Se trago as mãos
distantes do meu peito, é que há distância entre intenção e gesto”, diz Chico
Buarque. Da mesma forma, conscientizar-se está ainda a alguma distancia de
resolver o problema. Pode não ser fácil mudar os padrões de comportamento de
uma vida toda. Por isso psicoterapia é fundamental. Simplesmente deixar de se
preocupar com as coisas e pessoas não é possível. Se fosse, deixaria um vazio
enorme. A fibromiálgica pode perceber que há anos não vive sua própria vida.
Reconstruí-la, retomar objetivos próprios e prazeres pessoais é fundamental.
Lidar com a culpa de “deixar as pessoas à própria sorte” também pode ser
difícil. A combinação da medicação certa, exercícios físicos, auto-conhecimento
e muita vontade é a única fórmula capaz de operar milagres.
Autora:
Dra. Marina Petrilli
Segnini dos Santos
Psicóloga –
Psicoterapêuta ( CRP 06/65345)
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