A Leitura do Mundo que precede a Leitura da Palavra
É uma frase muito conhecida no meio
pedagógico. Paulo Freire incentivava a necessidade da compreensão do mundo em
si a ser aprendido, antes de se “executar” o conteúdo a que se destinava,
naquele momento. Bom, por se falar em conteúdo, ocorre muito ainda, a visão
fechada de que as partes devem ser aprendidas separadamente, como se o
conhecimento pudesse ser colocado em gavetas, abrindo e fechando-se cada uma,
quando for necessário. É uma visão de transmissão de conteúdo. Como se o professor,
fosse uma enciclopédia ambulante e o aluno, um banco que recebe todo o
conhecimento ali depositado pelo professor, o detentor do conhecimento. Daí,
surge o nome de Educação Bancária. É uma visão tradicional da Educação e como
toda visão, deve ser respeitada, afinal, somos frutos desta Educação Bancária,
onde, me foi muito importante, decorar os verbos no tempo, modo, forma nominal
e o “diaxo a quatro”. Decorar a tabuada e calcular infinitas expressões numéricas
era fantástico para mim. As quatro operações nem se fala. A utilização das
linhas para se treinar uma boa caligrafia, ainda considero importante. No
fundo, considero importante decorar muita coisa. Principalmente a questão de
pela repetição a mente ser conduzida por osmose para onde queremos, formam-se
assim os hábitos, que se forem bons, show de bola! Alguns fonoaudiólogos chamam
a atenção para nós professores sobre a necessidade de se ficar atento às
crianças que sofrem de problemas de discalculia, disgrafia, a exemplo, pois estes,
em sua maioria, só aprendem, por repetições, são casos a serem olhados com
maior cuidado. No entanto, repetir conteúdos, como se fossem rezas, não fazem
muito sentido. Daí a importância de se entender o que está sendo decorado. Se o foco é a Aprendizagem, talvez não seja necessária,
repetições. Precisamos ensinar nossos alunos a pensar. E para tanto, os
conteúdos não devem estar engavetados como se o conhecimento do mundo fosse separado.
Uma coisa liga a outra. Como somos seres biopsicossociais, compreendemos o
mundo a partir de complexas e subjetivas visões diferentes. É muito comum,
vermos alunos, que executam as operações matemáticas com maestria embora não
saibam a hora e o momento correto de aplicá-las. Que resolvem as regras de
três, as razões e proporções da vida, mas não sabem em que momento solicitado
seria ideal realizar tai cálculos. Que leem com a habilidade de um relator, mas
não sabem o que estão lendo. Precisamos, muito mais do que transmitir a
execução, a forma de fazer tal coisa e sim focar no porquê esta coisa deve ser
executada. Como esta coisa está sendo feita. Para que serve. Por este motivo,
encontramos até nas Universidades, pessoas com grandes problemas de interpretação.
Em sua maioria, oriundos de escolas que valorizam e focam na Educação
tradicional, nas partes do conteúdo, sem analisar o todo. Também não encaro a Escola
como um mero banco de dados onde os agentes professores transmitem aos agentes
alunos, (da mente vazia, como uma folha de papel em branco), os dados
pré-estabelecidos de cima, lá das Secretárias de Educação, lá dos Pcn’s da
vida, sem nenhuma flexibilidade. Até porque estes agentes “folha de papel em
branco” não existem e por sua vez, os detentores do conhecimento, no caso o
professor, também não existe. E quem pensar desta forma, cairá por terra a
qualquer momento, quando o aluno lhe fizer uma pergunta ao qual o mesmo não
terá a resposta. Não somos enciclopédias, somos mediadores e facilitadores. Não
vejo a necessidade de exames na escola com o objetivo de pontuar e determinar
quem tirou a nota melhor ou maior em escala crescente e decrescente. Vejo a
escola como formadora, preparadora para o mundo em constantes mudanças, que
respeita o saber prévio dos alunos, que valoriza a aprendizagem, ante notas,
exames, decorebas. Que estimula o aluno a saber que existe uma lógica nas
tabuadas, na utilização dos verbos (embora, a língua portuguesa agora, está
viva até demais e por questões econômicas, resolve mudar tudo aquilo que
aprendemos, é complicado!), enfim, compreender a origem das palavras, surgindo
daí a necessidade gritante de se utilizar dicionários etimológicos para uma
melhor compreensão. E se caso o aluno tiver um rendimento abaixo do esperado,
trabalhar posteriormente e imediatamente, um refazer destas avaliações. Para
mim, prova e teste não existem e sim, verificações de aprendizagens. Verificamos
o que o aluno compreendeu, assimilou e acomodou na mente e, o que não ficou
acomodado, desequilibrar novamente até tentar encaixar de novo. Para mim, desta
forma a coisa flui, com mais leveza. Aprendendo o mundo, entendendo as palavras
simultaneamente, compreendendo os problemas, analisando e apontando soluções
viáveis, apresentando inúmeras possibilidades de resoluções. Isto é ter uma
visão holística da Educação. Eu tenho.
Iracema
Correia
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